Escravidão em Curaçao
Em 1662, a Espanha fez um acordo com Domingo Grillo e
Ambrósio Lomelino para comercializar escravos da África. Grillo e Lomelino
contrataram a Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (CIO) para trazer
escravos da costa africana para a América do Sul. O contrato com a CIO
estipulava que os neerlandeses forneceriam 24.000 escravos durante sete anos,
aproximadamente 3500 escravos por ano, sendo Curaçao o porto intermediário. No
entanto, esses números estavam longe de serem alcançados: o número médio de
escravos trazidos estava mais próximo de 700 por ano.
Em Curaçao, os escravos eram submetidos ao controle de
qualidade. Os escravos eram classificados de acordo com a chamada ‘Pieza de
Indias’, uma medida referente à capacidade de trabalho de um escravo. Depois
disso, os escravos eram vendidos a comerciantes espanhóis e transportados para
as colônias espanholas. A CIO celebrou igualmente contratos de fornecimento com
os proprietários posteriores do acordo. Através desse ‘comércio de acordo’, a
República obteve cerca de 30% do tráfico de escravos entre 1660 e 1690. No
entanto, os números totais ainda eram limitados; no período de 1658 a 1674, um
total estimado de 45.700 escravos foram transportados para o Ocidente.
Um fator importante no tráfico de escravos neerlandês
tornou-se o Asiento Coymans. Balthasar Coymans dirigia uma filial da casa
comercial neerlandesa Coymans em Cádis. Ele começou uma campanha de difamação
para colocar o veneziano Nicolas Porcio, que era o dono do Asiento na época,
em maus lençóis. A difamação deu certo e o próprio Coymans obteve o monopólio
do comércio de escravos para os territórios ultramarinos espanhóis em 1685. Ele
também pediu à CIO que levasse os escravos da África, de modo que o tráfico de
escravos espanhol se tornou um assunto inteiramente neerlandês. Coymans era
obrigado a entregar 3000 ‘peças’ por ano, mas nos primeiros três anos do
contrato apenas um total de 4896 ‘peças’ dos 9000 esperadas foram entregues.
Coymans morreu em 1686, os espanhóis perderam a confiança em seu sucessor e
ficaram com seus pagamentos. Em 1688, o direito exclusivo voltou para o
proprietário anterior, Nicolas Porcio.
Em 1689, a CIO declarou Curaçao um mercado aberto.
Comerciantes de todas as nacionalidades eram agora bem-vindos, mas como o
comércio agora só podia ocorrer no mercado livre, o comércio com as colônias
espanholas não era mais possível. A CIO concluiu alguns contratos com Porcio em
1689 e 1691, mas os números eram mais limitados do que antes. Em 1697 foi
celebrado um contrato com a Real Companhia de Cacheu, sucessora de Porcio, para
o fornecimento de 2500 a 3000 escravos por ano, mas Curaçao já não era um porto
de trânsito para esse contrato. Em 1699 o contrato foi renovado por mais dois
anos.
No século XVIII, o tráfico de escravos cresceu enormemente.
Houve anos em que mais de cem mil escravos foram transportados. No entanto, a
França e a Inglaterra assumiram a posição da República Neerlandesa, assim como
também o resto do comércio. O tráfico de escravos não se mostrava mais muito
lucrativo para os neerlandeses. Isso se deveu, em parte, à alta mortalidade
entre os escravos na travessia. O número de escravos que morria a bordo dos
navios chegava a 30%. As circunstâncias miseráveis foram expressas em uma
citação de uma pessoa anônima a bordo:
"O tempo úmido e os ventos fortes impediam que os
buracos de ventilação pudessem ser abertos, febre e disenteria começavam a
atormentar os negros... O porão do navio onde eles ficavam era tão
insuportavelmente quente que dava para a gente ficar só por um momento. Não era
só o calor que tornava isso impossível; as tábuas estavam manchadas de tanto
sangue que esses pobres homens nadavam nele, por assim dizer... Quando a doença
provocava feridas abertas, restava-lhes ainda pouco tempo de vida. Deitados,
muitas vezes despidos, sobre tábuas ásperas com duras saliências, muitas vezes
eram acometidos de gangrena até que o Deus misericordioso os chamava para Si para acabar com essa vida miserável".
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