terça-feira, 2 de janeiro de 2024

História da Escravidão

 





Escravidão em Curaçao

Em 1662, a Espanha fez um acordo com Domingo Grillo e Ambrósio Lomelino para comercializar escravos da África. Grillo e Lomelino contrataram a Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (CIO) para trazer escravos da costa africana para a América do Sul. O contrato com a CIO estipulava que os neerlandeses forneceriam 24.000 escravos durante sete anos, aproximadamente 3500 escravos por ano, sendo Curaçao o porto intermediário. No entanto, esses números estavam longe de serem alcançados: o número médio de escravos trazidos estava mais próximo de 700 por ano.

Em Curaçao, os escravos eram submetidos ao controle de qualidade. Os escravos eram classificados de acordo com a chamada ‘Pieza de Indias’, uma medida referente à capacidade de trabalho de um escravo. Depois disso, os escravos eram vendidos a comerciantes espanhóis e transportados para as colônias espanholas. A CIO celebrou igualmente contratos de fornecimento com os proprietários posteriores do acordo. Através desse ‘comércio de acordo’, a República obteve cerca de 30% do tráfico de escravos entre 1660 e 1690. No entanto, os números totais ainda eram limitados; no período de 1658 a 1674, um total estimado de 45.700 escravos foram transportados para o Ocidente.

Um fator importante no tráfico de escravos neerlandês tornou-se o Asiento Coymans. Balthasar Coymans dirigia uma filial da casa comercial neerlandesa Coymans em Cádis. Ele começou uma campanha de difamação para colocar o veneziano Nicolas Porcio, que era o dono do Asiento na época, em maus lençóis. A difamação deu certo e o próprio Coymans obteve o monopólio do comércio de escravos para os territórios ultramarinos espanhóis em 1685. Ele também pediu à CIO que levasse os escravos da África, de modo que o tráfico de escravos espanhol se tornou um assunto inteiramente neerlandês. Coymans era obrigado a entregar 3000 ‘peças’ por ano, mas nos primeiros três anos do contrato apenas um total de 4896 ‘peças’ dos 9000 esperadas foram entregues. Coymans morreu em 1686, os espanhóis perderam a confiança em seu sucessor e ficaram com seus pagamentos. Em 1688, o direito exclusivo voltou para o proprietário anterior, Nicolas Porcio.

Em 1689, a CIO declarou Curaçao um mercado aberto. Comerciantes de todas as nacionalidades eram agora bem-vindos, mas como o comércio agora só podia ocorrer no mercado livre, o comércio com as colônias espanholas não era mais possível. A CIO concluiu alguns contratos com Porcio em 1689 e 1691, mas os números eram mais limitados do que antes. Em 1697 foi celebrado um contrato com a Real Companhia de Cacheu, sucessora de Porcio, para o fornecimento de 2500 a 3000 escravos por ano, mas Curaçao já não era um porto de trânsito para esse contrato. Em 1699 o contrato foi renovado por mais dois anos.

No século XVIII, o tráfico de escravos cresceu enormemente. Houve anos em que mais de cem mil escravos foram transportados. No entanto, a França e a Inglaterra assumiram a posição da República Neerlandesa, assim como também o resto do comércio. O tráfico de escravos não se mostrava mais muito lucrativo para os neerlandeses. Isso se deveu, em parte, à alta mortalidade entre os escravos na travessia. O número de escravos que morria a bordo dos navios chegava a 30%. As circunstâncias miseráveis foram expressas em uma citação de uma pessoa anônima a bordo:

"O tempo úmido e os ventos fortes impediam que os buracos de ventilação pudessem ser abertos, febre e disenteria começavam a atormentar os negros... O porão do navio onde eles ficavam era tão insuportavelmente quente que dava para a gente ficar só por um momento. Não era só o calor que tornava isso impossível; as tábuas estavam manchadas de tanto sangue que esses pobres homens nadavam nele, por assim dizer... Quando a doença provocava feridas abertas, restava-lhes ainda pouco tempo de vida. Deitados, muitas vezes despidos, sobre tábuas ásperas com duras saliências, muitas vezes eram acometidos de gangrena até que o Deus misericordioso os chamava para Si para acabar com essa vida miserável".

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