sexta-feira, 26 de abril de 2024

5º Domingo da Páscoa

 

Quinto Domingo Da Páscoa - João 15, 1-8

(Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor.  ... Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele dará muito fruto... Meu Pai será glorificado, se derdes muito fruto, e assim sereis meus discípulos.)

O fazendeiro pode estar satisfeito.
Havia uma videira no Egito.
Ele o desenterrou com cuidado.
 
Ele lavrou o solo,
Plantou a muda com as próprias mãos,
Cuidou dela e a zelou.
 
E veja: há muitos ramos,
Frutas, mãos cheias.
 
O cansaço da poda já passou
E o agricultor se lembra de uma velha canção:
 
“Nunca mais retire as mãos
Daquele a quem você escolheu:

O homem, o filho da vossa graça”.


Reflexão:

 

Neste texto, podemos refletir sobre a relação entre o agricultor, a videira e os ramos, à luz das palavras de Jesus no Evangelho de João. O agricultor representa Deus, que cuida da videira (que é Jesus) e dos ramos (que são os discípulos). Assim como um agricultor se dedica a cultivar e cuidar da sua plantação, Deus se dedica a cuidar de nós, seus filhos.

 

A imagem da videira também nos lembra da importância da conexão e da união com Jesus. Assim como os ramos precisam permanecer ligados à videira para dar frutos, nós precisamos permanecer unidos a Jesus para termos uma vida frutífera e significativa.

A referência à velha canção no final do texto pode nos lembrar do compromisso de Deus conosco. Ele nos escolheu e nos convida a permanecer em sua graça, a nos mantermos unidos a Ele, para que possamos dar frutos que glorifiquem o Pai.

Em resumo, o texto nos convida a refletir sobre a importância da conexão com Jesus, do cuidado de Deus para conosco e do nosso papel em dar frutos que glorifiquem a Deus e evidenciem nossa condição de discípulos de Jesus.


Texto: Servaas Bellemakers; Desenho: Hans Wessels; Tradução: André Oliehoek e Reflexão com ajuda da IA



sábado, 20 de abril de 2024

Quarto Domingo da Páscoa

 


Quarto Domingo Da Páscoa - João 10, 12-14

(O mercenário, que não é pastor, ... vê o lobo, abandona as ovelhas e foge. ... Eu sou o bom pastor. Conheço os meus e os meus me conhecem.)

 

Existem pastores
Que ficam a uma distância segura
Dos rebanhos que lhes foram confiados.
 
Mas este pastor
É feito de ovelhas.
Se identifica com o próprio rebanho.
É a própria busca na estepe,
Do medo e pânico deles.
Sem o seu rebanho
Ele não teria razão de ser.
Ele está absorvido neles.
 
Ele tem o direito de falar,

Ele é pastor para a vida.

 

Reflexão:

 

Esse texto parece conter uma reflexão sobre a natureza do papel de um líder, especificamente um líder espiritual, como um pastor. Em vez de adotar uma postura distante e separada de seus seguidores, o texto sugere que há um tipo especial de pastor que se integra completamente ao rebanho que lidera.

 Esse líder não é apenas um guia externo, mas é, em essência, parte do próprio grupo que lidera. Ele compartilha suas experiências, medos e alegrias. Sua identidade está profundamente ligada à comunidade que lidera, de modo que sem ela ele perderia sua própria razão de existir. Essa imersão total no rebanho permite que ele compreenda suas necessidades, anseios e desafios de uma maneira íntima.

Ao se fundir com o rebanho, esse pastor ganha o direito de falar e liderar, não apenas por causa de sua posição designada, mas também por causa da profunda conexão que compartilha com seus membros. Sua liderança não é imposta de cima para baixo, mas surge naturalmente de sua identificação e empatia com aqueles que ele guia.

 Essa reflexão pode inspirar uma consideração mais profunda sobre o que significa liderar com autenticidade, empatia e conexão genuína com aqueles que estão sendo liderados.


(Texto: Servaas Bellemakers; Desenho: Hans Wessels; Tradução e Refelexão com ajuda da IA: André Oliehoek)

quinta-feira, 11 de abril de 2024

3º Domingo da Páscoa

 

Terceiro Domingo Da Páscoa - Lucas 24, 41-43

(Como ainda assim não acreditassem..., perguntou-lhes: “Tendes por aqui algo para comer?” ... Ofereceram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele tomou e comeu à vista deles)


Canção do deserto

 

Quem está vindo lá do deserto?
Uma pessoa crescida e mais alguém;
Terei o meu amor bem perto.
Um bebê das dores do parto nascido.
Entre muitas mortes mais vivo que ninguém,
Neste mundo de Deus parido.
 
Acorde agora, me dê um abraço duradouro,
Mais do que um sonho: uma palavra a dizer,
Mais do que uma palavra: um tesouro.
Você vai ver os frutos, uma terra
De um céu azul e pastos verdes a crescer
E um futuro à frente nos vales e na serra.

 

O amor é poderoso como a morte

A paixão cava mais fundo do que a sepultura,

Nenhum deus foi tão grande e forte.
Uma faísca, uma chama, um fogo ardente,
Indomável: o amor não falha e sempre dura.

Esta é sua hora de duração sem precedente.


Reflexão

O texto apresenta uma cena bíblica que pode ser interpretada como uma manifestação da fé e do poder divino. Ao se referir ao momento em que Jesus aparece aos discípulos após sua ressurreição e come peixe assado diante deles, o texto sugere a materialização do divino no cotidiano, o que pode ser visto como um símbolo de esperança e renovação.

A "Canção do deserto" que acompanha o texto parece ressoar com essa ideia de renascimento e superação das adversidades. O deserto é frequentemente associado a lugares áridos e hostis, mas também pode simbolizar um período de provação e transformação espiritual. A chegada de uma pessoa crescida e um bebê nas dores do parto pode representar esse renascimento e a promessa de um futuro melhor.

A mensagem de amor presente na canção é poderosa e resiliente, transcendendo até mesmo a morte. O amor é retratado como algo indomável e duradouro, capaz de superar todas as adversidades. Essa mensagem pode ser vista como uma metáfora para a fé e a esperança, sugerindo que, mesmo nos momentos mais sombrios, o amor e a crença no divino podem nos guiar para um futuro melhor.

Em resumo, tanto o texto quanto a canção refletem a ideia de renascimento, esperança e amor como forças poderosas que podem transcender as dificuldades da vida e nos guiar para um futuro mais luminoso.

(Texto: Servaas Bellemakers; Desenho: Hans Wessels; Tradução e Reflexão: André Oliehoek, com ajuda da IA)

quinta-feira, 4 de abril de 2024

2º Domingo da Páscoa

 



Segundo domingo Da Páscoa - João 20, 25-28

(Os outros lhe disseram: “Vimos o Senhor”!  ... Mas Tomé replicou: ... ”Se não puser meu dedo no lugar dos pregos...não acreditarei”. Jesus lhe disse: “Porque me viste acreditaste. Felizes os que não viram e creram”.)

Tomas estava atrasado, pensava ele,
Como muitos sempre estão atrasados.
Ele já não conseguia mais acreditar,
E não era o único.
 
Mas veja como ri agora.
 
Ele reconheceu seu Senhor e Deus
no rosto do trabalhador rural,
na mulher e no filho dela,
na longa fila de pessoas
marcadas para toda a vida
pela dor e pela morte.
 
Finalmente olhou direito,

Paz e alegria serão a sua parte.


Reflexão:

 Este texto, baseado no episódio bíblico de Tomé, convida à reflexão sobre o tema da fé e da percepção espiritual. A atitude inicial de Tomé representa uma postura cética, que muitas vezes é compartilhada por pessoas que exigem evidências tangíveis antes de acreditarem em algo. Sua exigência de tocar as feridas de Jesus como prova de sua ressurreição ilustra a busca por uma confirmação física, uma necessidade de "ver para crer".

No entanto, a resposta de Jesus, "Felizes os que não viram e creram", sugere que a verdadeira fé vai além da necessidade de evidências materiais. Ela requer uma disposição para acreditar mesmo sem ter visto diretamente. Isso aponta para a ideia de que a fé é mais sobre confiança e aceitação do que sobre provas tangíveis.

O texto então descreve uma transformação em Tomé. Ele passa de um estado de dúvida e incredulidade para um reconhecimento espiritual mais profundo. Ele percebe que a presença de Deus não está apenas nas experiências sobrenaturais ou nas manifestações divinas diretas, mas também nas interações cotidianas e nas pessoas ao seu redor. Ele encontra Deus no rosto do trabalhador rural, na mulher e no filho dela, e até mesmo naqueles marcados pela dor e pela morte.

Essa mudança de perspectiva sugere que a verdadeira fé é encontrada quando conseguimos ver além das aparências superficiais e reconhecer a presença divina em todas as coisas e pessoas. É uma jornada do despertar espiritual, onde a paz e alegria se tornam acessíveis através desse reconhecimento profundo.

Em última análise, o texto nos convida a considerar que a fé não é apenas uma questão de acreditar em algo sobrenatural, mas também de perceber a presença do sagrado em nosso mundo diário e nas vidas das pessoas ao nosso redor.


(Texto: Servaas Bellemakers; Desenho: Hans Wessels; Tradução e Reflexão: André Oliehoek com ajuda da IA)

sábado, 30 de março de 2024

Páscoa

 



Domingo Da Páscoa - João 20, 2-5

(Maria Madalena correu e foi ter com Simão Pedro e os outros... dizendo-lhes: “Tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram”.)


Maria Madalena: ela chegou primeiro,
Procurando a vida onde havia a morte.
'Ele não está no túmulo' ela disse,
Mas ninguém acreditou nela.
 
Pedro e o discípulo favorito de Jesus
Decidiram ir com ela.
Veja-os inclinando, pensando, olhando,
Não podem crer o que estão vendo.
 
'Diga-nos, Maria,
O que você viu ao longo do caminho? '.
 
O túmulo do Messias, Ele está vivo,
Eu vi sua luminosidade, ele se levantou.
Ouviu anjos, falou testemunhas?

O sudário e a mortalha ainda estavam lá '.

 

O sol já nasceu, a escuridão perde a sua lida.
Como o amanhecer, a esperança nasce. E veja:

Ele nos precede até o limite entre morte e vida.


Reflexão:

Esta breve reflexão é sobre a experiência de Maria Madalena ao descobrir o túmulo vazio de Jesus após sua crucificação. Ela é retratada como uma figura corajosa e determinada, que vai ao túmulo mesmo diante da morte de Jesus. Maria Madalena é a primeira a testemunhar a ressurreição, encontrando o túmulo vazio e percebendo que Jesus não está mais lá. No entanto, quando ela compartilha essa notícia com os outros discípulos, eles inicialmente duvidam dela.

A reflexão destaca a importância da fé e da experiência pessoal na compreensão da verdade. Apesar da incredulidade dos outros, Maria Madalena mantém sua convicção de que viu Jesus ressuscitado. Sua experiência ilustra a ressurreição como um momento de esperança e renovação, onde a luz da vida triunfa sobre a escuridão da morte.

Além disso, a reflexão sugere que a ressurreição não é apenas um evento isolado, mas algo que continua a influenciar e transformar as vidas daqueles que a testemunharam e acreditaram nela. Ela simboliza a vitória sobre a morte e a promessa de vida eterna, destacando a ideia de que Jesus precede seus seguidores no caminho da vida após a morte.

Em resumo, a reflexão sobre Maria Madalena e a ressurreição de Jesus nos convida a refletir sobre a importância da fé, da esperança e da experiência pessoal na compreensão da verdade espiritual e na busca por uma vida significativa e eterna.

(Texto: Servaas Bellemakers; Desenho: Wim Hessels; Tradução: André Oliehoek; Reflexão: IA)

sexta-feira, 22 de março de 2024

Domingo De Ramos

 


 

Isaías 50, 7

(O Senhor Deus me presta auxílio: por isso não me deixei vencer pela ignomínia... e sei que não vou sair frustrado.)

Que agora nossos corações possam se abrir,
Que nossa respiração ganhe profundidade,
Que o nosso silêncio fale:
 
Deus de cada vez de novo,
Quem traz os mortos de volta à vida,
Quem está em tudo e em todos:
Você é o Único, ninguém mais.
 
Você que nos equipou com a razão:
Faça-nos ver, conhecer,
Traga-nos à razão, traga-nos a nós mesmos.
Deus do arrependimento: abençoado.
 
Você que nos faz voltar a você:
Faça-nos voltar à sua palavra,
Faça-nos servir ao seu futuro.
Deus da conversão: abençoado.
 
Você que quer reconciliação e pessoas como graça:
Se não conseguirmos, quebre o feitiço,
Perdoe nossa dívida.
Deus do perdão: abençoado.
 
Veja-nos perdidos e atolados,
Abençoado de Israel

Defenda-nos.

 

 

Reflexão:

 

O texto em questão parece ser uma reflexão profunda sobre a conexão espiritual e a busca pela transcendência, expressa por meio de uma série de invocações e preces a uma entidade divina, referida como "Deus". Vamos analisar as principais ideias e temas presentes no texto:

 1. **Abertura do Coração e Profundidade da Respiração**: A primeira parte do texto sugere uma abertura emocional e espiritual, simbolizada pela abertura do coração e a respiração profunda. Isso pode ser interpretado como um convite à introspecção e à conexão com algo maior do que nós mesmos.

 2. **Deus como Fonte de Renovação e Vida**: O autor invoca Deus como aquele que traz os mortos de volta à vida, sugerindo uma ideia de renovação e ressurreição, tanto literal quanto metaforicamente. Isso pode ser interpretado como uma busca por renascimento espiritual e revitalização das energias.

 3. **Deus como Onipresente e Único**: Há uma afirmação da unicidade de Deus e sua presença em todas as coisas e em todos os seres. Isso reflete uma concepção monoteísta da divindade e sugere uma reverência profunda por essa presença universal.

 4. **Razão e Conhecimento**: O autor reconhece o papel da razão e do conhecimento na busca espiritual, pedindo a Deus para nos conceder clareza mental e insight. Isso pode ser interpretado como uma busca por entendimento e sabedoria divina.

 5. **Arrependimento e Conversão**: Há uma referência ao arrependimento e à conversão, sugerindo um desejo por transformação e redenção pessoal. Isso indica uma consciência da imperfeição humana e a aspiração por uma vida mais alinhada com os princípios divinos.

 6. **Perdão e Reconciliação**: O texto aborda a necessidade de perdão e reconciliação, tanto com os outros quanto com Deus. Isso reflete uma compreensão da importância do perdão na jornada espiritual e na restauração de relacionamentos.

 7. **Apelo por Proteção e Orientação**: Por fim, o autor faz um apelo por proteção e orientação divina, reconhecendo a própria fragilidade e a necessidade de amparo superior.

 Em suma, o texto é uma reflexão poética e devocional que aborda temas como renovação espiritual, busca por conhecimento e perdão, e a necessidade de orientação divina na jornada humana. Ele expressa um profundo anseio por conexão com o divino e uma busca por significado e transcendência na vida.

(Texto: Servaas Bellemakers; Desenho: Hans Wessels; Tradução: André Oliehoek; Reflexão: IA)

sábado, 9 de março de 2024

Ano Litúrgico - Ciclo B - Quaresma

 


Quarto Domingo Da Quaresma - João 3, 20-21

(Todo aquele que faz o mal odeia a luz... Mas quem põe em obra a verdade vem à luz, para que as obras apareçam, pois são feitas em Deus)

 

Quem é quem?
Quem é Jesus, quem é Nicodemos?
E quem é o dono da mão
Entre essas duas figuras?
 
Isso não importa:
Duas pessoas se tornam irmão e irmã.
E talvez seja a mão de Deus
Que os une.
 
Isso é verdadeiro,
Isso é luz;
O resto é mentira:

Escuridão e nevoeiro.

 

Reflexão:

Esta poesia convida à reflexão sobre a essência das pessoas e a natureza das relações humanas, utilizando símbolos religiosos para transmitir uma mensagem mais profunda.

O questionamento inicial sobre quem é Jesus, quem é Nicodemos e quem é o dono da mão cria uma atmosfera de indagação, sugerindo que, muitas vezes, as identidades individuais podem se misturar ou se sobrepor, perdendo importância diante de conexões mais profundas.

A afirmação de que "Isso não importa" sugere uma transcendência das distinções superficiais entre as pessoas. Em vez de focar nas diferenças, a poesia destaca a possibilidade de união e fraternidade entre duas pessoas, independentemente de quem elas sejam.

A imagem da mão entre essas duas figuras pode simbolizar a ação, o auxílio mútuo ou a solidariedade. A sugestão de que talvez seja a mão de Deus que os une adiciona uma dimensão espiritual à relação, implicando que as conexões verdadeiramente significativas são guiadas por algo maior.

A distinção entre verdade e mentira, luz e escuridão, nevoeiro e clareza, reforça a ideia de que a verdadeira essência das relações humanas está na simplicidade e na luz da compreensão mútua, enquanto a falsidade e a escuridão estão associadas à falta de compreensão e separação.

Em última análise, a poesia sugere que, ao transcendermos as diferenças superficiais e nos conectarmos uns com os outros de maneira autêntica, podemos experimentar uma união significativa, talvez guiada por forças espirituais ou divinas. Essa mensagem ressalta a importância de enxergar além das aparências e abraçar a essência compartilhada que nos une como seres humanos.

(Desenho: Wim Hessels; Texto: Servaas Bellemakers; Tradução: André Oliehoek; Reflexão: IA)


domingo, 3 de março de 2024

Ano Litúrgico - Ciclo B


Terceiro Domingo Da Quaresma - Êxodo 20, 1-3

(“Eu sou o Senhor teu Deus, que te libertou do Egito... Não terás outros deuses além de mim)

 

Quem teve que rastejar-se diante dum dono,
honrará a liberdade.
Quem passou pelo eterno sono
sabe agora o que é vitalidade.
 
'Ouve, Israel, sou Eu
que te tirou de povos escravistas.
Dez palavras afastar-te-ão do caminho ateu,
A vida e a liberdade são previstas‘.
 
Palavra do Deus Único,
luz pra mostrar o caminho,
luminar ecumênico,

fogo ardente de amor e carinho.

  (Texto: Servaas Bellemakers; Desenho: Wim Hessels; Tradução: André Oliehoek) 

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

 


O auge do tráfico de escravos neerlandês

 

Aliás, o tráfico de escravos para as colônias de exportação francesas, britânicas e neerlandesas aumentou muito mais rápido no decorrer do século XVIII do que para os territórios espanhóis, que eram muito menos especializados no cultivo intensivo de açúcar e café. Como na América espanhola, a lei colonial britânica, francesa e neerlandesa proibiu o fornecimento de escravos por navios estrangeiros, mas, ao contrário da América espanhola, essa disposição foi razoavelmente aplicada em outros lugares, pelo menos em tempos de paz. Isso se devia ao fato de que os escravos custavam muito dinheiro e muitas vezes eram comprados parcelados. Portanto, não era atraente para os compradores de escravos estabelecer um sistema de coleta em colônias estrangeiras e esperar por anos pelo pagamento dos escravos fornecidos ilegalmente.

Outra explicação para o lento crescimento do tráfico de escravos neerlandês no século XVIII pode ter sido o monopólio do tráfico de escravos da CIO. Isso pode ser deduzido do fato de que, após sua abolição, o tráfico de escravos neerlandês cresceu mais rápido do que nunca. Isso sugere que a CIO conduziu esse comércio de forma menos eficiente do que as empresas privadas de navegação, e que seu monopólio retardou o crescimento do comércio de escravos neerlandês. Só em 1738 todas as restrições às companhias de navegação privadas no comércio de escravos neerlandeses foram suspensas. Mas esse crescimento sem precedentes do tráfico de escravos neerlandês também foi mais modesto e durou menos do que o dos equivalentes britânicos, franceses e portugueses. No final do século XVIII, o tráfico de escravos neerlandês era o único em declínio, e Haia foi forçada a reduzir a tributação do tráfico de escravos. Sem sucesso. Muito antes da invasão francesa em 1796, o tamanho do tráfico de escravos neerlandês havia sido reduzido a alguns navios por ano. Em muitos dos fortes neerlandeses na Costa do Ouro a manutenção foi relaxada e, durante os últimos anos de existência da CIO, aconteceu que o pessoal do forte não recebia o seu salário durante anos.

Este declínio no comércio de escravos levantou a questão de se os fortes neerlandeses na costa africana poderiam ser usados como pontes para uma maior colonização da área circundante. Esse pensamento não era novo. Os neerlandeses sempre se perguntaram se o açúcar e o café das Índias Ocidentais não deveriam ser substituídos por açúcar e café da África. Afinal, a compra e o transporte de escravos acarretavam grandes riscos, enquanto os neerlandeses não tinham tido sorte na criação de fazendas coloniais no Novo Mundo. No século XVII, a colônia de fazendas neerlandesas no Brasil já era deficitária, mas mesmo nas últimas décadas do século XVIII, as fazendas coloniais neerlandesas no Caribe só puderam se desenvolver após a Quarta Guerra Inglesa graças a fazendeiros e investidores estrangeiros. Tanto no Suriname quanto na então vizinha colônia Demerara (mais tarde parte da Guiana Britânica), o número de fazendeiros britânicos aumentou rapidamente. Vários escritores sonhavam em fundar fazendas na África, mas, ao fazê-lo, pareciam esquecer que não eram os europeus, mas os africanos que haviam impedido a exploração da África Ocidental desde o início, e que essa recusa em admitir europeus em seu continente levou a que as fazendas fossem fundadas do outro lado do Atlântico e não na África. Ao longo dos séculos, os europeus elaboraram inúmeros projetos para tornar a África mais do que apenas um fornecedor de escravos, ouro e penas de avestruz. Foram feitas tentativas para estabelecerem fazendas de algodão, açúcar e anil, mas todos esses projetos falharam devido à oposição africana. Descobriu-se, repetidamente, que o poder neerlandês acabava, onde o alcance das balas de canhão dos fortes terminava.

Com o passar do tempo, os neerlandeses estabeleceram relações comerciais com outras nações da África Ocidental. As nações africanas mais importantes eram os elmineses, que viviam perto da fortaleza da capital neerlandesa São Jorge d'Elmina, e o reino de Asante, com sua capital Kumasi. Na região do Atlântico Sul, os contatos oficiais duraram pouco. O mesmo aconteceu com vários estados da África Ocidental na Costa dos Escravos e Costa do Grein, a região costeira da atual Libéria da África Ocidental entre o Cabo Mesurado e o Cabo Palmas. Às vezes, os neerlandeses tinham muito contato com essas áreas, às vezes menos ou nada. Em nenhum lugar os neerlandeses conseguiram obter uma posição de monopólio e cada vez tiveram que estar cientes da concorrência de outros Estados europeus.

Na África Ocidental, os laços entre os neerlandeses e os elmineses eram mais estreitos. Afinal, a maior parte da equipe da CIO ficou na fortaleza principal, e alguns desses homens se aliaram a mulheres de Elmina. Os filhos dessas uniões eram quase sempre criados pela mãe e sua família. Com o tempo, formaram-se famílias mulatas, essenciais para o funcionamento do forte. Eles forneciam comida e escravos para o forte e, após a abolição do monopólio da CIO, também puderam abastecer as companhias privadas de navegação com escravos. Essas companhias de navegação muitas vezes atracavam em Elmina para comprar ainda escravos, necessários para lotar os navios, antes de iniciarem a travessia para o Novo Mundo. Antes disso, os transportadores de escravos tinham navegado, frequentemente, ao longo da costa por muitos meses e não tinham sido capazes de comprar tantos escravos que o navio seria capaz de terminar sua viagem com lucro. Os capitães desses navios negreiros sabiam que sempre havia escravos à venda em Elmina e, na pressa de iniciar a travessia, concordavam com os preços mais altos que ali eram exigidos.

 

(Continua...)

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

O Pequeno João




"Ah! Filho da Madrugada! Filho da Madrugada!”

"Por que está chorando, João? Você não deve chorar por ter nascido entre os homens. Pois eu gosto de você e o escolhi entre todos. Ensinei a você a linguagem das borboletas e dos pássaros e fiz você compreender o olhar das flores. A lua conhece você e a terra boa e gentil o ama como seu filho mais querido. Por que você não seria feliz, já que eu sou seu amigo?"

"Oh, Filho da Madrugada, eu sou! Eu sou feliz! Mas eu tenho que chorar por todas essas pessoas!"

"Por quê? Você não precisa ficar com eles se estiver sentindo tristeza. Você pode morar aqui e me acompanhar sempre. Vamos viver na parte mais densa da floresta, nas dunas solitárias e ensolaradas ou nos juncos à beira da lagoa. Eu o levarei a todos os lugares, no fundo da água entre as plantas aquáticas, nos palácios dos elfos e nas habitações dos duendes. Flutuarei com você sobre campos e florestas, sobre terras e mares estrangeiros. Eu peço às aranhas de tecerem roupas finas para você e darem-lhe asas iguais às que eu uso. Vamos viver da fragrância das flores e dançar com os elfos ao luar. Quando o outono chegar, vamos com o verão para onde as palmeiras altas se erguem, onde coloridos cachos de flores pendem das rochas e a superfície azul escura do mar brilha ao sol. E sempre vou contar-lhe contos de fadas. Você quer isso, João?"

"Então nunca mais habitarei entre os homens?"

"Tristeza sem fim, tédio, cansaço e tristeza esperam por vocês entre os homens. Dia a dia você vai se preocupar e gemer sob o peso da sua vida. Eles ofenderão e atormentarão sua alma terna com sua grosseria. Eles vão aborrecê-lo até a morte e torturar você. Você ama os homens mais do que a mim?"

"Não! Não! Filho da Madrugada, eu quero ficar com você!'

Agora ele podia mostrar o quanto amava Filho da Madrugada. Sim! Queria ir embora e esquecer tudo por ele. Seu quarto, Presto e seu pai.

Cheio de alegria e determinação, repetiu o seu desejo. A chuva parou. Através de nuvens cinzentas, um sorriso cintilante do sol brilhava sobre a floresta, sobre as folhas úmidas e brilhantes e sobre as gotas que brilhavam em cada galho e talo e adornavam as teias de aranha que se estendiam sobre as folhas de carvalho. Lentamente, uma névoa fina se ergueu do chão úmido entre a vegetação rasteira, carregando consigo mil aromas doces e sonhadores. O melro agora voava para o topo mais alto das árvores e cantava em melodias curtas e sinceras ao sol que se afundava, como que para mostrar qual canção era apropriada aqui, no solene silêncio da noite, como acompanhamento suave das gotas caindo.

"Não é mais bonito do que o som dos homens, João? Sim! O melro sabe acertar o tom. Aqui tudo é harmonia, você nunca vai encontrá-la tão completa entre os homens."

'O que é harmonia, Filho da Madrugada?'

"Isso é o mesmo que felicidade. É a isso que tudo aspira. Também os seres humanos. Mas eles agem como meninos que querem pegar uma borboleta. Na verdade, eles a afugentam por suas tentativas estúpidas."

"E vou encontrar a harmonia com você?"

"Sim, João! Mas aí é preciso esquecer as pessoas. É um mau começo nascer entre os homens, mas você ainda é jovem. Você deve deixar de lado todas as lembranças da sua vida humana. Com elas você se desviaria e cairia em confusão, conflito e miséria. Você seria como o jovem besouro de quem eu te disse."

"O que aconteceu com ele?"

"Ele viu a luz clara de que falava o velho besouro e pensou que a melhor coisa que poderia fazer era voar em direção dela. Ele voou direto para uma sala e caiu em mãos humanas. Durante três dias foi torturado ali. Ficou numa caixa de papelão, amarraram um barbante ao seu pé e obrigavam-no a voar. Depois conseguiu soltar-se, mas perdeu uma asa e uma perna e, por fim, rastejando desamparado num tapete e ainda tentando em vão chegar ao jardim, foi esmagado por um pé pesado.

"Todos os animais, João, que vagueiam à noite são tão bons filhos do sol quanto nós. E embora nunca tenham visto o esplêndido do seu pai, ainda assim uma memória inconsciente sempre os leva a tudo o que brilha. E milhares de pobres criaturas das trevas encontram uma morte miserável através desse amor ao sol, de quem há muito estão separados e afastados. Assim, uma tendência incompreendida e irresistível leva os homens à perdição sob os pretextos daquela Grande Luz que os fez existir e que eles já não conhecem."

Interrogativo João olhou para os olhos de Filho da Madrugada. Mas esses eram profundos e misteriosos, como o céu escuro entre as estrelas.

"Você quer dizer Deus?", perguntou timidamente, por fim.

“Deus?" Os olhos profundos sorriam suavemente. "Eu sei, João, em que você pensa quando pronuncia esse nome: na cadeira em frente à sua cama, onde você faz a longa oração todas as noites; nas cortinas verdes e sem brilho em frente à janela da igreja, para a qual você olha tanto na manhã de domingo; nas letras maiúsculas da sua pequena Bíblia; na bandeja de coleta na igreja; no canto feio e no cheiro do mofo humano. O que você quer dizer com esse nome, João, é uma ilusão ridícula: em vez do sol, uma grande lâmpada de querosene, na qual centenas e milhares de mosquitos estão colados sem nada poderem fazer."

“Mas qual então é o nome dessa Grande Luz, Filho da Madrugada? E a quem devo orar?"

 "João, é como se um pequeno fungo me perguntasse qual é o nome da terra que gira em torno. Se houvesse uma resposta para sua pergunta, você a entenderia tal como uma minhoca entende a música das estrelas. Mas eu vou te ensinar a orar".

E, junto com o pequeno João, que ponderava as palavras de Filho da Madrugada num silêncio espantoso, ele voou para fora da floresta, tão alto que uma longa faixa cintilante como ouro tornou-se visível sobre a borda das dunas. Continuaram voando. O patamar caprichosamente sombreado das dunas deslizava sob seu olhar e o raio de luz ficava cada vez mais largo. A cor esverdeada das dunas desaparecia, a grama marrom aparecia e estranhas plantas azuis pálidas cresciam entre as amófilas. Mais uma alta cordilheira de morros, uma longa e estreita faixa de areia e, em seguida, o mar, largo e imenso.

O azul era a grande superfície, até o horizonte, mas sob o sol uma estreita faixa luzia em brilho vermelho deslumbrante. Uma espuma branca longa e fofa franzia a superfície do mar, como pele de doninha embainha o veludo azul.

E no horizonte havia uma linha fina e maravilhosa entre o ar e a água. Parecia um milagre: reta e ao mesmo tempo curva, afiada e ao mesmo tempo indefinível, visível e ainda insondável. Era como a nota de uma harpa que ressoa longa e sonhadora, que parece morrer e ainda permanece.

Então o pequeno John sentou-se à beira da duna e olhava, olhava... imóvel num silêncio longo que fazia-lhe pensar que estava prestes a morrer, como se as grandes portas douradas do universo estivessem se abrindo imponentes e sua pequena alma flutuasse ao encontro da primeira luz do infinito.

Até que as lágrimas, que brotavam em seus olhos arregalados, cobriam o belo sol e fizeram o esplendor do céu e da terra recuar em um crepúsculo escuro e trêmulo...

"É assim que você deve orar", disse Filho da Madrugada. 

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Ano Litúrgico - Ciclo B

          

 
   
                    Segundo Domingo Da Quaresma - Gênesis 22, 16-18

(Uma vez que ...não recusaste o teu único filho, eu te abençoarei e tornarei a tua descendência tão numerosa como as estrelas do céu)

Isaac e Abraão
Escalam a montanha.
 
Um menino que carrega a lenha,
Será que sabe o que a vida lhe pede?
 
Um pai com a morte diante dos olhos,
sacrificando seus sonhos mais doces.
 
Abraão e Isaac
voltam da montanha.
 
Um pai que soltou o seu filho,
um menino comprometido com a vida.
 
Povo do futuro:
Escute e fique em silêncio.


Interpretação:

 O poema fala sobre a história bíblica de Abraão e Isaac. Abraão, seguindo uma ordem de Deus, leva seu filho Isaac para o Monte Moriá, onde deve sacrificá-lo. No caminho, Isaac pergunta a seu pai o que está carregando e Abraão responde que é lenha para o sacrifício.

O poema começa com a imagem dos dois personagens escalando a montanha. O menino Isaac carrega a lenha, mas não sabe o que a vida lhe pede. O pai Abraão, por sua vez, está com a morte diante dos olhos, sacrificando seus sonhos mais doces.

No final da jornada, Abraão e Isaac voltam da montanha. Abraão soltou seu filho, e Isaac está comprometido com a vida. O poema termina com um apelo ao povo do futuro: "Escute e fique em silêncio."

O poema pode ser interpretado como uma metáfora para a vida. A jornada de Abraão e Isaac representa a jornada de todos nós. A vida é cheia de desafios, e muitas vezes somos chamados a fazer sacrifícios. Mas, se tivermos fé e obediência, podemos superar esses desafios e encontrar a redenção.

O apelo ao povo do futuro é um convite à reflexão. O poema sugere que devemos aprender com a história de Abraão e Isaac. Devemos ter fé, obediência e disposição para fazer sacrifícios.

 

(Texto: Servaas Bellemakers; Desenho: Wim Hessels; Tradução e Interpretação: André Oliehoek) 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

História da Escravidão

 


De onde vinham os escravos (Continuação)

Em primeiro lugar, uma grande parte da população na África Ocidental era escrava. Cálculos baseados em dados do século XIX sugerem que em alguns trechos litorâneos mais de 30% da população era escrava. Esses escravos geralmente não produziam mais do que seu próprio sustento. Portanto, em tempos de aumento dos preços dos alimentos, era atraente para muitos proprietários de escravos africanos vender alguns de seus escravos para que eles não tivessem mais que lhes fornecer comida. A oferta de escravos no litoral também foi aumentada porque o aumento dos preços possibilitou financeiramente trazer cada vez mais escravos do interior para o litoral. Isso significava não caminhar por dias, mas semanas e, como resultado, a mortalidade aumentou ao longo do caminho. No entanto, os custos associados foram mais do que compensados pelos preços cada vez maiores no litoral.

Esses preços crescentes também fizeram com que o número de mulheres e crianças no comércio de escravos aumentasse acentuadamente, embora ambos os grupos inicialmente não fossem muito populares entre os compradores de escravos europeus. Escravos fortes, jovens e do sexo masculino eram preferidos. Mas o aumento dos preços de venda reduziu a participação dos custos de transporte no preço, e isso tornou rentável a longo prazo comprar e vender mulheres e crianças. Isso também significou um aumento significativo na oferta.

Houve outra mudança que levou ao aumento do tráfico atlântico de escravos: a forma como os africanos eram escravizados. Na segunda metade do século XVIII, em vez de prisioneiros de guerra, infratores da lei e devedores, populações inteiras de aldeias foram escravizadas por gangues irregulares. Isso também contribuiu para o crescimento do tráfico transatlântico de escravos. Além do tráfico atlântico de escravos, havia também um animado comércio interno de escravos na África e um comércio dominado pelos árabes no Leste e no Norte. Os africanos determinavam se queriam oferecer escravos e, em caso afirmativo, onde, de que idade, de que sexo e a que preço. Clientes suficientes.

Na costa da África Ocidental, cada país tinha mais ou menos a sua própria parte onde o comércio era conduzido. Já foi salientado que os neerlandeses e os portugueses tinham arranjado por tratado que os navios um do outro pudessem comercializar na parte «neerlandesa» da Costa do Ouro e na parte costeira «portuguesa» da África Central. Com o tempo, a demarcação mútua perdeu o sentido. Às vezes, muito menos escravos eram oferecidos em certas partes da costa do que antes, enquanto o comércio aumentava em partes da costa onde quase não havia oferta até então. Por essas razões, os compradores de escravos europeus continuaram a navegar ao longo da costa para comprar escravos por mais tempo do que no início do tráfico de escravos. Não a travessia do Atlântico, mas a compra de escravos tornou-se a parte mais demorada de uma viagem triangular.

Embora o tamanho do comércio de escravos neerlandês tenha aumentado acentuadamente no decorrer do século XVIII, isso foi ainda mais verdadeiro para as outras nações europeias de comércio de escravos. Como resultado, a participação neerlandesa no total permaneceu modesta e raramente ultrapassou 5%. Há várias razões para isso. Em primeiro lugar, a importância do comércio neerlandês de escravos diminuiu, pois até o século XVIII os neerlandeses vendiam mais escravos africanos a compradores em territórios estrangeiros do que em suas próprias colônias. O declínio do comércio de trânsito significou que os neerlandeses aparentemente perderam competitividade. Esse desenvolvimento pode ser claramente observado no fornecimento de escravos para a América espanhola, na qual no decorrer do século XVIII não mais os neerlandeses, mas os ingleses desempenharam o papel principal.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

O Pequeno João



Filho da Madrugada ria e espalhava a fumaça do charuto para longe dele com um ramo de samambaia. João tinha lágrimas nos olhos, mas não era da fumaça.

"Filho da Madrugada", disse ele, "eu queria ir embora, está tão feio aqui e tão difícil de acreditar o que está acontecendo."

"Não, ainda temos que ficar. Você vai rir, vai ser mais divertido ainda".

O canto cessou e o homem pálido começou a falar. Ele gritava alto para que todos pudessem ouvi-lo e o que ele disse soava até muito gentil. Ele chamou os homens de irmãos e irmãs, e falou da natureza gloriosa e das maravilhas da criação, do sol de Deus e dos doces pássaros e flores.

"O que é isso?", perguntou João. "Como ele fala sobre isso? Ele te conhece? Ele é seu amigo?"

Filho da Madrugada sacudiu a cabeça com desprezo. "Ele não me conhece, nem conhece o sol, nem os pássaros, nem as flores. É tudo mentira que ele diz."

As pessoas ouviram todas com muita atenção. A gorda, que estava sentada na campânula azul, começou a chorar várias vezes e enxugava as lágrimas com a barra da saia, pois não podia usar o lenço.

O homem pálido disse que Deus tinha feito o sol brilhar tão intensamente por causa da reunião que eles estavam fazendo. Filho da Madrugada riu e jogou a partir do gramado fechado uma bolota no seu nariz.

"Ele vai experimentar isso de outra forma", disse ele, "meu pai estaria brilhando para ele, o que ele imagina?"

Mas o homem pálido estava muito inflamado para prestar atenção à bolota que parecia cair do céu e falava muito e cada vez mais alto. Por fim, ficava vermelho e azul no rosto, cerrava os punhos e gritava tão alto que as folhas começavam a tremer e as lâminas de grama balançavam para lá e para cá consternadas. Quando ele finalmente se acalmou, todos começaram a cantar novamente.

"Que terrível", disse um melro que ouvia o barulho de uma árvore alta. "Como é que pode fazer um barulho tão ensurdecedor? Prefiro ter bois na floresta. Ouça isso. Nossa!' Que coisa feia!!

O melro é um conhecedor e tem um bom gosto.

Após o canto, o povo retirou de cestas, caixas e sacos, todo tipo de alimentos e bebidas. Papéis foram espalhados e sanduíches e laranjas foram distribuídos. Garrafas e copos também apareceram. Então Filho da Madrugada convocou seus aliados e começou a sitiar a tropa festiva.

Um sapo corajoso pulou no colo de uma velha senhora, bem ao lado do sanduíche que ela estava prestes a comer e sentou-se ali como que espantado com a sua própria audácia. A senhora deu um grito horrível e encarou o agressor consternada, sem ousar se mexer. O exemplo corajoso foi seguido. Lagartas verdes rastejavam destemidamente sobre chapéus, lenços e pães, causando medo e terror em todos os lugares. Aranhas grandes e gordas se abaixavam em fios brilhantes nos copos de cerveja, na cabeça ou no pescoço e um grito alto sempre se seguia ao ataque. Inúmeras moscas atacaram os homens no rosto deles e sacrificaram suas vidas pela boa causa, jogando-se sobre comida e bebida e tornando-os inúteis. Finalmente, as formigas vieram em imensas multidões e atacaram o inimigo às centenas nos lugares mais inesperados. Isso causou confusão e consternação! Homens e mulheres se levantaram apressadamente do musgo e gama há tanto tempo oprimidos. A pobre campânula azul também foi libertada pelo ataque bem-sucedido de duas lacrainhas nas pernas da gorda. O desespero aumentou: dançando e pulando, com os gestos mais singulares, o pessoal tentava escapar de seus perseguidores. O homem pálido resistiu por um longo tempo e se debatia com um raminho preto, mas um par de chapins atrevidos, que achavam que nenhum meio de ataque era muito ilegal e uma vespa que o ferroou na panturrilha através de suas calças pretas, o colocaram fora de ação.

Então o sol alegre não conseguia mais se segurar e escondia seu rosto atrás de uma nuvem. Grandes gotas de chuva caíram sobre as partes beligerantes. Parecia que a chuva, repentinamente, fez brotar do chão uma floresta de cogumelos pretos. Eram os guarda-chuvas. As mulheres cobriam as saias sobre suas cabeças, revelando anáguas brancas, pernas de meia branca e sapatos sem salto. Ah, como Filho da Madrugada se divertia! Ele teve que segurar o talo de flores de tanto rir.

Quanto mais perto e mais densa a chuva caía, ela começou a envolver a floresta com um véu cinzento e brilhante. Jatos de água caíam dos guarda-chuvas, chapéus, casacos pretos, que brilhavam como os escudos do besouro d'água, os sapatos encharcados batiam no chão. Então o povo desistiu e saiu em silêncio em pequenos grupos, deixando atrás de si uma infinidade de papéis, garrafas vazias e cascas de laranja como vestígios feios da sua visita. No campo aberto e na floresta, o silêncio voltou novamente e logo nada mais se ouvia a não ser o farfalhar monótono da chuva.

"Agora, João! Agora também vimos pessoas humanas. Por que você também não ri delas?"

"Puxa, Filho da Madrugada! Todos os homens são assim?"

"Há muitos piores e mais feios ainda! Às vezes, eles se enfurecem, deliram e destroem tudo o que é belo e delicioso. Cortam árvores e colocam em seu lugar casas grossas e quadradas. Deliberadamente pisoteiam as flores e matam, por diversão, os animais que estão ao seu alcance. Em suas cidades, onde se amontoam, tudo é sujo e preto e o ar é abafado e envenenado com mau cheiro e fumaça. Eles estão completamente alienados da natureza e de seus semelhantes. É por isso que eles fazem uma figura tão tola e triste quando voltam para a natureza."



 

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Ano Litúrgico- Ciclo B

                       

        Primeiro Domingo da Quaresma - Gênesis 9, 14-15

(Quando cobrir de nuvens a terra, aparecerá o arco-íris. Então eu me lembrarei de minha aliança convosco e com todas as espécies de seres vivos, e as águas não virão mais como dilúvio para destruir a vida animal)


O macaco, o cabrito-montanhês,
O burro e o pato, também eles,
sobreviveram.

O texugo, não mais ameaçado,
o pequeno rato corajoso no seu pelo,
o menor pardal, o menor verme
podem estar lá novamente.

Os poderosos da terra
finalmente conscientes, humildes,
no signo do arco-íris!
Se isso pudesse ser verdade.

No meio de tudo issoresponsabilidade, o homem,
não mais dominador, mas guardião,
imagem e semelhança do Deus vivo.

Ah Noé, para onde foram as cores do arco-íris,
onde está o novo começo radiante?
Onde estão as pombas da paz?
A responsabilidade é nossa!

(Texto: Servaas Bellemakers; Desenho: Wim Hessels; Tradução: André Oliehoek)


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

História da Escravidão

 


De onde vinham os escravos (Continuação)

Os efeitos demográficos do tráfico de escravos podem ser difíceis de identificar, mas também não está claro se os bens da Europa pelos quais os escravos foram trocados trouxeram muitas mudanças na África. Estudos recentes mostram que as quantidades de produtos importados eram relativamente pequenas e que a demanda por produtos tradicionais africanos não diminuiu. Não há informações precisas, porque não há arquivos na África. Sobre a economia africana há apenas algumas observações de europeus na costa, complementadas com alguns dados de diários de navios e relatórios de viagens. A maior parte das informações provenientes de fontes neerlandesas referese apenas ao curso do comércio. A maioria dos europeus não estava realmente interessada em assuntos internos africanos. É por isso que o comandante do forte principal neerlandês, Elmina, uma vez suspirou que muitos de seus subordinados demonstravam:

"essa incompreensível indiferença, de modo que o país, toda a costa da Guiné, com todas as particularidades desta parte do país, não era considerada digna de nenhum assunto, de qualquer contemplação, tanto que, no regresso da sua estadia na costa, apenas sabiam o nome do forte, ou dos fortes, onde estiveram, e o nome do chefe temporário; que era tremendamente quente, e que os negros são pretos".

 

O tráfico de escravos na costa africana

O tráfico de escravos acabou dominando os contatos comerciais neerlandeses com a África. Esse comércio esteve oficialmente nas mãos da CIO até 1730. Depois disso, os navios negreiros neerlandeses ainda tiveram que solicitar uma licença da CIO para navegar para a África e o Caribe. Não há dúvida de que compradores de escravos ilegais neerlandeses ('descaminheiros') também participavam do tráfico de escravos. No entanto, nunca ficará claro quantos eram. Para o século XVIII, o número de assentamentos não licenciados é estimado em cinco por ano. No entanto, deve-se ter em mente que o limiar para participar do tráfico transatlântico de escravos era alto. Tal viagem triangular colocava exigências muito diferentes para o navio e a tripulação do que navegar de um lado para o outro: dos Países Baixos para a África Ocidental. Demorou muito para ter sucesso no tráfico de escravos. Em primeiro lugar, a composição da carga de troca foi essencial. Sem uma boa variedade de tecidos, fuzis, pólvora, varas de ferro, bebidas alcoólicas, utensílios e, às vezes, conchas cauri – que vinham das Maldivas, no Oceano Índico – não era possível conquistar o favor dos traficantes de escravos africanos. Isso era necessário, pois a competição entre os compradores de escravos europeus era acirrada. Isso permitiu que os africanos controlassem todas as facetas do tráfico de escravos na costa. O fato de que a oferta de escravos na África poderia responder muito mais rapidamente às mudanças na demanda do que a de bens deveu-se à falta de técnicas inovadoras de produção dos africanos. De acordo com observadores europeus, a mineração, em particular, era muito primitiva; de uma área de exportação de ouro, a África Ocidental acabou se tornando uma área de importação de ouro. Os africanos, por outro lado, conseguiram fornecer cada vez mais escravos. Havia uma série de razões para isso.

(Continua...)