O auge do tráfico de escravos neerlandês
Aliás, o tráfico de escravos para as colônias de exportação
francesas, britânicas e neerlandesas aumentou muito mais rápido no decorrer do
século XVIII do que para os territórios espanhóis, que eram muito menos especializados
no cultivo intensivo de açúcar e café. Como na América espanhola, a lei
colonial britânica, francesa e neerlandesa proibiu o fornecimento de escravos
por navios estrangeiros, mas, ao contrário da América espanhola, essa
disposição foi razoavelmente aplicada em outros lugares, pelo menos em tempos
de paz. Isso se devia ao fato de que os escravos custavam muito dinheiro e
muitas vezes eram comprados parcelados. Portanto, não era atraente para os
compradores de escravos estabelecer um sistema de coleta em colônias
estrangeiras e esperar por anos pelo pagamento dos escravos fornecidos
ilegalmente.
Outra explicação para o lento crescimento do tráfico de
escravos neerlandês no século XVIII pode ter sido o monopólio do tráfico de
escravos da CIO. Isso pode ser deduzido do fato de que, após sua abolição, o
tráfico de escravos neerlandês cresceu mais rápido do que nunca. Isso sugere
que a CIO conduziu esse comércio de forma menos eficiente do que as empresas
privadas de navegação, e que seu monopólio retardou o crescimento do comércio
de escravos neerlandês. Só em 1738 todas as restrições às companhias de
navegação privadas no comércio de escravos neerlandeses foram suspensas. Mas
esse crescimento sem precedentes do tráfico de escravos neerlandês também foi
mais modesto e durou menos do que o dos equivalentes britânicos, franceses e
portugueses. No final do século XVIII, o tráfico de escravos neerlandês era o
único em declínio, e Haia foi forçada a reduzir a tributação do tráfico de
escravos. Sem sucesso. Muito antes da invasão francesa em 1796, o tamanho do
tráfico de escravos neerlandês havia sido reduzido a alguns navios por ano. Em
muitos dos fortes neerlandeses na Costa do Ouro a manutenção foi relaxada e,
durante os últimos anos de existência da CIO, aconteceu que o pessoal do forte
não recebia o seu salário durante anos.
Este declínio no comércio de escravos levantou a questão de
se os fortes neerlandeses na costa africana poderiam ser usados como pontes
para uma maior colonização da área circundante. Esse pensamento não era novo.
Os neerlandeses sempre se perguntaram se o açúcar e o café das Índias
Ocidentais não deveriam ser substituídos por açúcar e café da África. Afinal, a
compra e o transporte de escravos acarretavam grandes riscos, enquanto os neerlandeses
não tinham tido sorte na criação de fazendas coloniais no Novo Mundo. No século
XVII, a colônia de fazendas neerlandesas no Brasil já era deficitária, mas
mesmo nas últimas décadas do século XVIII, as fazendas coloniais neerlandesas
no Caribe só puderam se desenvolver após a Quarta Guerra Inglesa graças a
fazendeiros e investidores estrangeiros. Tanto no Suriname quanto na então
vizinha colônia Demerara (mais tarde parte da Guiana Britânica), o número de
fazendeiros britânicos aumentou rapidamente. Vários escritores sonhavam em
fundar fazendas na África, mas, ao fazê-lo, pareciam esquecer que não eram os
europeus, mas os africanos que haviam impedido a exploração da África Ocidental
desde o início, e que essa recusa em admitir europeus em seu continente levou a
que as fazendas fossem fundadas do outro lado do Atlântico e não na África. Ao
longo dos séculos, os europeus elaboraram inúmeros projetos para tornar a
África mais do que apenas um fornecedor de escravos, ouro e penas de avestruz.
Foram feitas tentativas para estabelecerem fazendas de algodão, açúcar e anil,
mas todos esses projetos falharam devido à oposição africana. Descobriu-se,
repetidamente, que o poder neerlandês acabava, onde o alcance das balas de
canhão dos fortes terminava.
Com o passar do tempo, os neerlandeses estabeleceram relações
comerciais com outras nações da África Ocidental. As nações africanas mais
importantes eram os elmineses, que viviam perto da fortaleza da capital
neerlandesa São Jorge d'Elmina, e o reino de Asante, com sua capital Kumasi. Na
região do Atlântico Sul, os contatos oficiais duraram pouco. O mesmo aconteceu
com vários estados da África Ocidental na Costa dos Escravos e Costa do Grein,
a região costeira da atual Libéria da África Ocidental entre o Cabo Mesurado e
o Cabo Palmas. Às vezes, os neerlandeses tinham muito contato com essas áreas,
às vezes menos ou nada. Em nenhum lugar os neerlandeses conseguiram obter uma
posição de monopólio e cada vez tiveram que estar cientes da concorrência de
outros Estados europeus.
Na África Ocidental, os laços entre os neerlandeses e os
elmineses eram mais estreitos. Afinal, a maior parte da equipe da CIO ficou na
fortaleza principal, e alguns desses homens se aliaram a mulheres de Elmina. Os
filhos dessas uniões eram quase sempre criados pela mãe e sua família. Com o
tempo, formaram-se famílias mulatas, essenciais para o funcionamento do forte.
Eles forneciam comida e escravos para o forte e, após a abolição do monopólio
da CIO, também puderam abastecer as companhias privadas de navegação com
escravos. Essas companhias de navegação muitas vezes atracavam em Elmina para
comprar ainda escravos, necessários para lotar os navios, antes de iniciarem a
travessia para o Novo Mundo. Antes disso, os transportadores de escravos tinham
navegado, frequentemente, ao longo da costa por muitos meses e não tinham sido
capazes de comprar tantos escravos que o navio seria capaz de terminar sua
viagem com lucro. Os capitães desses navios negreiros sabiam que sempre havia
escravos à venda em Elmina e, na pressa de iniciar a travessia, concordavam com
os preços mais altos que ali eram exigidos.
(Continua...)