quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

O Pequeno João

 


Bem, isso foi uma grande surpresa. Durante um ano inteiro ficou sob a terra escura esperando a primeira noite quente. E quando ele esticou a cabeça para fora da terra, todo aquele verde, a grama balançando e os pássaros cantando o deixaram muito envergonhado. Ele não sabia o que fazer. Ele tateava as lâminas da grama nas proximidades com suas antenas e as colocou em forma de leque. Com isso, João percebia que o besouro era um macho. Era muito bonito em sua espécie, tinha pernas negras brilhantes, um abdômen grosso e polinizado e uma couraça que brilhava como um espelho. Felizmente, ele logo viu, não muito longe dele, outro besouro-de-maio, não tão bonito, mas que havia nascido um dia antes e, portanto, era muito mais velho. Muito modestamente, porque ele ainda era tão jovem, se dirige a ele.

"O que você quer, meu amigo", diz o besouro mais velho do alto, porque viu que era um recém-chegado, "você quer me pedir o caminho?"

"Não, mas sabe”, disse o mais novo educadamente, "eu não sei o que fazer aqui. O que se faz sendo um besouro?"

"Ora, ora!", disse o outro, "então você não sabe o que um besouro faz? Bem, eu não o culpo por isso, eu também era assim. Ouça com atenção e eu lhe direi. A principal coisa na vida do besouro-de-maio é comer. Não muito longe daqui há uma preciosa cerca-viva de tília, que foi colocada lá para que possamos comer o tanto quanto quisermos."

"Quem colocou essa sebe de tília lá?", perguntou o jovem besouro.

"Ora, um ser grande, que nos estima muito. Todas as manhãs ele passa pela sebe e o besouro que mais comeu, ele leva consigo para dentro de uma linda casa, onde há uma luz clara e onde todos os besouros estão alegremente reunidos. Mas quem voa a noite toda em vez de comer  será pego pelo morcego."

"O que é isso?", perguntou o besouro recém-chegado.

"É um monstro terrível com dentes afiados que, de repente, vem voando atrás da gente e nos come com um estalo horrível." Quando o besouro disse isso, eles ouviram um chiado estridente acima deles que penetrou até na alma.

"Ué! É ele", gritou o mais velho. "Cuidado com ele, jovem amigo. Seja grato por eu tê-lo avisado a tempo. Você tem uma noite inteira pela frente, não estrague agora. Quanto menos você comer, maior a probabilidade de ser devorado pelo morcego. E só entra na casa com a luz clara quem escolher uma vocação séria. Lembre bem! Uma vocação séria!"

"Então o besouro, que era um dia inteiro mais velho, andou lentamente por entre as lâminas da grama deixando o primeiro estupefato atrás de si. Você sabe o que é uma vocação, João? Não! Bem, aquele besouro jovem também não sabia disso. Ele entendeu que devia estar relacionado à comida. Mas como ele deveria chegar àquela sebe?" Bem ao lado dele estava uma lâmina da grama esbelta e resistente, balançando suavemente ao vento da noite. Agarrou-a com as seis pernas tortas. Visto de baixo, parecia ser um colosso alto e muito íngreme. Ainda assim, o besouro queria subir. "Isso é uma vocação!", pensou, e começou a subir bravamente. Foi lento, muitas vezes escorregando para baixo, mas progrediu. E quando finalmente subiu ao pico mais fino e oscilava com as flutuações, sentiu-se satisfeito e feliz. Que vista ele tinha daqui! Parecia-lhe como se estivesse pesquisando o mundo. Como era maravilhoso estar cercado de ar por todos os lados! Ansiosamente ele respirou fundo até o abdômen se encher de ar. Como as coisas eram estranhas para ele! Ele queria ir ainda mais alto!

Encantado, ele levantou os élitros, fez as asas membranosas tremerem por um momento. Ele queria mais alto!

Mais alto! Novamente suas asas tremiam, suas pernas soltavam a lâmina da grama e... Oh, alegria! Uau! Lá ele voava livre e alegremente no ar calmo e quente da noite."

"E depois?", perguntou João.

"O que se seguiu depois não é tão alegre. Falarei sobre isso mais tarde."

Eles haviam sobrevoado a lagoa. Algumas borboletas brancas tremulavam junto com elas.

"Para onde vai a viagem, elfos?", perguntaram.

"Para a grande rosa da duna, que floresce ali contra a encosta."

"Obá, nós também vamos, nós também vamos!”

De longe ela era visível com suas numerosas e delicadas flores amarelas sedosas e macias. Os botões eram coloridos de vermelho e as flores abertas mostravam listras vermelhas, como sinais do tempo quando ainda eram brotos.

Na tranquilidade solitária, a rosa selvagem da duna floresceu e encheu a área circundante com seus maravilhosos aromas doces. Eles são tão deliciosos que os elfos das dunas vivem apenas deles.

As borboletas rodopiavam em sua direção e beijavam flor após flor. "Viemos confiar-lhe um tesouro", disse Filho da Madrugada, "você vai guardá-lo para nós?"

"Claro que sim! Claro que sim!", sussurrou a rosa da duna, "Tempo para mim não é problema e, se não me tirarem, acho que não vou sair daqui. Além do mais, tenho espinhos bem afiados."

Então o rato-do-campo, primo do rato da escola, veio e cavou um buraco por baixo das raízes da rosa. Lá ele escondeu a chave.

"Se você a quiser novamente, tem que se comunicar comigo. Assim você não vai prejudicar a rosa."

A rosa trançava seus galhos espinhosos sobre a entrada e jurava solenemente guardá-la fielmente. As borboletas eram testemunhas.

Na manhã seguinte, João acordou na sua própria cama, com Presto, o relógio e o papel de parede. O cordão em volta do pescoço dele e a chave haviam desaparecido.

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