O PEQUENO JOÃO
Assim, ele tinha uma montanha de framboesa e um vale de morango. Bem no fundo, depois da horta, havia um espaço que ele chamava de paraíso e, é claro, que era muito lindo. Uma grande parte desse paraíso era água, uma lagoa, onde os nenúfares brancos flutuavam e os juncos mantinham longas conversas sussurradas com o vento. Do outro lado desta lagoa estavam as dunas. O paraíso propriamente dito era um pequeno pedaço de grama na margem de cá, cercada por vegetação rasteira, entre a qual a salsa do mato brotava alto. Ali, o Joãozinho gostava de se deitar na grama densa, espiando através dos juncos embaralhados até os topos das dunas sobre a água. Nas noites quentes de verão, ele estava sempre lá e permanecia por horas olhando, sem nunca ficar entediado. Pensou na profundidade da água calma e límpida diante dele, como deveria ser agradável ali, entre aquelas plantas aquáticas, naquela estranha luz fraca, e depois novamente nas nuvens distantes e lindamente coloridas que pairavam sobre as dunas. Perguntava-se o que estaria além delas e como seria maravilhoso poder voar até lá. Quando o sol acabava de se pôr, as nuvens se acumulavam ali de tal forma que pareciam formar a entrada de uma gruta e nas profundezas dela havia um brilho de suave luz vermelha. Era isso que Joãozinho queria. Se eu pudesse voar para dentro dela!... pensava. O que poderia estar por trás disso? Bem que poderia chegar lá uma vez, uma vez só...
Mas não importa quantas vezes ele desejasse, a gruta sempre se desmanchava em nuvens pálidas e escuras, sem que ele pudesse se aproximar dela. Em seguida, ficava frio e úmido junto à lagoa e tinha que voltar para seu quarto escuro na velha casa.
Lá, ele não morava sozinho; ele tinha um pai, que cuidava bem dele, um cachorro chamado Presto e um gato chamado Simão. É claro que ele amava mais seu pai, mas achava que Presto e Simão não eram inferiores ao pai, de que gente grande certamente discordava. Ele confidenciava mais segredos a Presto do que a seu pai e sentia uma admiração respeitosa por Simão. Ora, isso não era à toa! Simão era um grande gato com pelo negro brilhante e uma cauda grossa. Dava para ver que ele estava convencido de sua própria grandeza e sabedoria. Manteve-se sempre digno e distinto, mesmo quando se permitia brincar com uma rolha que rolava pela casa, ou quando comia uma cabeça de peixe esquecida atrás de uma árvore. Diante da exuberância louca de Presto, ele estreitava os olhos verdes com desprezo e pensava: Ora, esses cães não sabem fazer outra coisa.
(Autor: Frederik van Eeden. Tradutor: André Oliehoek)
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