sábado, 1 de outubro de 2011

Peixoto Pitoresco


Peixoto Pitoresco
No ano do centenário de nascimento de Carlos Peixoto Filho, que ora transcorre, realizaram-se, aqui, algumas comemorações e escreveram-se alguns trabalhos, cujo ponto alto foi a conferência do professor Gastão de Almeida. Nada, porém, acerca de sua infância e primeiros estudos, em Ubá. Nada sobre o ensino secundário, no famoso “Ateneu Mineiro”, de Juiz de Fora, do consagrado mestre Santos Valente, que o considerou “aluno modelo”. E tão incomum, que, aos 13 anos, concluía o ciclo de preparatórios, sendo necessária uma licença especial do Ministro da Justiça para que, em 1885, se matriculasse na Faculdade de Direito de São Paulo. Nada sobre o seu curso superior quando pregava, nos discursos de rua, a Abolição e a República, contrariando as convicções e os interesses de seus parentes nesta terra. E contrista, e confrange, e aflige constatar que nada, mas nada mesmo, se disse a propósito do início da vida pública do genial conterrâneo, na política municipal, quando Prefeito (então se dizia Agente Executivo Municipal) em 1896, 1897 e 1898 (o mandato era então de três anos). Que administração fecunda e que cultura a serviço de sua terra! Eu me enleio e me deslumbro ainda hoje, quando recorro ao Estatuto Municipal, ou “Leis Orgânicas do Município de Ubá”, que ele, na época, redigiu para esta comuna, quer pela perfeição da forma, quer pela sabedoria da essência, padrão legislativo para centenas de municípios do Estado e do país, e que nos serviu de roteiro, quando, em 1937, redigimos os novos Estatutos Municipais de Ubá. Claro que a ninguém acusamos de tais lacunas, que elas cabem a todos nós, ubaenses.
Hoje, o que nos interessa é a face, digamos negativa, de Peixoto Filho, para provar que os gênios têm também suas descaídas. Será o seu lado humano.
Jamais compreendi a crendice de Carlos Peixoto, sua submissão às cartomantes. Quem melhor a definiu foi o grande historiador Manoel Bonfim, em palestra com Humberto de Campos:
    “— Carlos Peixoto era um tipo curioso. Inteligente, culto, e, no entanto, supersticioso. Era como o Alcindo e o Lauro Müller.
    E numa indiscrição:
Não havia, no Rio, certamente, pitonisa ou feiticeira, cujas portas não fossem transpostas pelo Lauro, pelo Alcindo e pelo Peixoto!”
    Felizmente o notável conhecedor de nossa história ficou apenas na citação de três nomes, pois a fauna é bem mais abundante, na vida pública brasileira...
    Essa outra foi contada ao mesmo Humberto de Campos por Manoel Vilaboim, no tempo líder da bancada paulista na Câmara Federal:
    “Peixoto possuía um “diário”, de que os seus íntimos tinham vaga notícia. Após o seu falecimento, Prudente de Morais Filho, o Prudentinho das rodas políticas, teve a ideia de publicar o “Diário” do companheiro desaparecido. Correu à casa do velho pai do ex-Presidente da Câmara, insistindo para ver o livro de reminiscências do amigo. Em virtude da insistência, entregam-lho. Prudente abre, e lê, certo, em uma página:
    — “Esteve, hoje, em minha casa o Prudentinho... Que besta!”
    Prudente de Morais Filho fechou o livro e entregou-o à família de Carlos Peixoto. E nunca mais falou na publicação do “Diário” do amigo morto.. .“
     Também sem desacertos, os seres humanos não seriam homens, mas puramente deuses...

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