Peixoto Pitoresco
No ano do centenário de nascimento de Carlos Peixoto Filho, que ora
transcorre, realizaram-se, aqui, algumas comemorações e escreveram-se alguns
trabalhos, cujo ponto alto foi a conferência do professor Gastão de Almeida.
Nada, porém, acerca de sua infância e primeiros estudos, em Ubá. Nada sobre o
ensino secundário, no famoso “Ateneu Mineiro”, de Juiz de Fora, do consagrado
mestre Santos Valente, que o considerou “aluno modelo”. E tão incomum, que, aos
13 anos, concluía o ciclo de preparatórios, sendo necessária uma licença
especial do Ministro da Justiça para que, em 1885, se matriculasse na Faculdade
de Direito de São Paulo. Nada sobre o seu curso superior quando pregava, nos
discursos de rua, a Abolição e a República, contrariando as convicções e os
interesses de seus parentes nesta terra. E contrista, e confrange, e aflige
constatar que nada, mas nada mesmo, se disse a propósito do início da vida
pública do genial conterrâneo, na política municipal, quando Prefeito (então se
dizia Agente Executivo Municipal) em 1896, 1897 e 1898 (o mandato era então de
três anos). Que administração fecunda e que cultura a serviço de sua terra! Eu
me enleio e me deslumbro ainda hoje, quando recorro ao Estatuto Municipal, ou
“Leis Orgânicas do Município de Ubá”, que ele, na época, redigiu para esta
comuna, quer pela perfeição da forma, quer pela sabedoria da essência, padrão
legislativo para centenas de municípios do Estado e do país, e que nos serviu
de roteiro, quando, em 1937, redigimos os novos Estatutos Municipais de Ubá.
Claro que a ninguém acusamos de tais lacunas, que elas cabem a todos nós,
ubaenses.
Hoje, o que nos interessa é a face, digamos negativa, de Peixoto Filho,
para provar que os gênios têm também suas descaídas. Será o seu lado humano.
Jamais compreendi a crendice de Carlos Peixoto, sua submissão às
cartomantes. Quem melhor a definiu foi o grande historiador Manoel Bonfim, em
palestra com Humberto de Campos:
“— Carlos Peixoto era um tipo curioso. Inteligente,
culto, e, no entanto, supersticioso. Era como o Alcindo e o Lauro Müller.
E numa indiscrição:
— Não havia, no Rio,
certamente, pitonisa ou feiticeira, cujas portas não fossem transpostas pelo
Lauro, pelo Alcindo e pelo Peixoto!”
Felizmente o notável conhecedor de
nossa história ficou apenas na citação de três nomes, pois a fauna é bem mais
abundante, na vida pública brasileira...
Essa outra foi contada ao mesmo
Humberto de Campos por Manoel Vilaboim, no tempo líder da bancada paulista na
Câmara Federal:
“Peixoto possuía um “diário”, de
que os seus íntimos tinham vaga notícia. Após o seu falecimento, Prudente de
Morais Filho, o Prudentinho das rodas políticas, teve a ideia de publicar o
“Diário” do companheiro desaparecido. Correu à casa do velho pai do
ex-Presidente da Câmara, insistindo para ver o livro de reminiscências do
amigo. Em virtude da insistência, entregam-lho. Prudente abre, e lê, certo, em
uma página:
— “Esteve, hoje, em minha casa o Prudentinho... Que
besta!”
Prudente de Morais Filho fechou o
livro e entregou-o à família de Carlos Peixoto. E nunca mais falou na
publicação do “Diário” do amigo morto.. .“
Também sem desacertos, os
seres humanos não seriam homens, mas puramente deuses...
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