terça-feira, 17 de maio de 2011

O Juiz Azevedo Corrêa

Acabo de receber, acompanhado de linda carta do Prof. Azevedo Corrêa Filho, o primeiro livro de versos de sua filha Terezinha Corrêa Moreira — “Poemas”. Senti-me transportado, ante o lirismo indelével da poetisa, à época espiritual da Grécia permanente, nos tempos de Anacreonte e Safo, ou ao “Jasmim das Carícias” da Universidade de Sankoré, em Tombuctu. Vieram-me à memória as “Preces no Tempo da Peste”, do rei hitita Mursilis II e os versos de Enil, a princesa babilônica do ano 2200 AC. Recordei-me dos “rubaiyats” de Omar Khayyan e da famosa canção romana PER VIGILIUM VENERIS. E transpus meio século de vida e de lutas e me encontrei, circulando, a passos lentos, o Jardim S. Januário, em companhia do Juiz José da Mota Azevedo Corrêa, discutindo temas literários e bebendo lições de letras e direito.

Acabara, o ilustre magistrado, irmão do famoso poeta do “Mal Secreto” (que não gostava de ser chamado o “poeta das Pombas”), terminara o Juiz ubaense os dois volumes de seus “Comentários ao Cod. Proc. Civ. Mineiro” (que destino teve essa obra?) e eu, como companheiro inseparável de seu filho Azevedo Corrêa Filho, colega de Ginásio, de Faculdade e de tertúlias, estava amiudadas vezes em sua casa, que pertencia, aliás, à nossa família.

A poesia habitava a alma e o sangue dessa GENS privilegiada. A delicadeza, a sensibilidade, a emoção, transpareciam em seus mínimos gestos. Pai e filho versejavam com tamanha naturalidade, que se diria ser o verso sua linguagem natural.

Havia eu decorado um soneto do Dr. Azevedo Corrêa, da “Galeria Romana”, sobre Mário

“De simples camponês à louca orgia assoma
da vida; e fez se erguer às altas posições,
Mário — o triunfador dos cimbros e teutões,
conclamado, por isto, o “Fundador de Roma”.

“Sete vezes assoma ao Consulado, e toma,
Na derradeira vez, cruéis resoluções,
afogando no sangue as cegas multidões,
massacrando os rivais que o seu rancor não doma”.

O outro filho, mais moço, Raimundo Corrêa Sobrinho, é um belo espírito e também vate de alto apreço, autor da “Oração aos Aflitos”, da José Olímpio Editora.

Quando pleiteei o ingresso na faculdade de Direito, ainda no Catete, Max Fleius, então secretário e consagrado historiador, quis barrar-me a matrícula. Havia um “Souza” em meu nome, que pouco uso, para atrapalhar a escrita. Deu-me o Dr. Azevedo Corrêa um atestado concludente e tudo se harmonizou.

Sempre acreditei que o Dr. Azevedo Corrêa fora um dos nomes importantes de nossa literatura. Mas aquela simplicidade, que raiava pela timidez, impediu que sua produção intelectual se tornasse conhecida.

Padeci, com seus filhos, a morte, em 1928, desse ilustre e humaníssimo varão, na mesa de operações de um Hospital juizdeforano.

Lendo, agora, os “Poemas” de Terezinha Corrêa, comprovei que a sensibilidade e o coração se perpetuam, na osmose da hereditariedade inarredável, como força cíclica das gerações sucessivas.

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