terça-feira, 13 de setembro de 2011

Teodoro Sampaio


Teodoro Sampaio

Os jornais do tempo anunciaram um discurso de João Neves da Fontoura na Câmara Federal. Era o orador mais fogoso, quase incendiário, da Aliança Liberal. Deliberamos (eu e o José Campos, este depois professor de Direito e Presidente do Tribunal de Justiça de Goiás) ouvi-lo e subimos às “torrinhas” do Palácio Tiradentes. O afluxo era enorme. Mal nos debruçamos no parapeito, divisei um preto gordo, beiçudo, de pesadas roupas escuras e cabelos grisalhos, flanando entre os deputados e com eles convivendo.
— Deve ser, disse ao Campos, algum contínuo muito antigo e familiar aos representantes do povo.
Mas o pretão assentou-se. E, para maior surpresa minha, os deputados o cercaram e lhe ouviam com atenção. Não me contive:
— Que contínuo atrevido, Campos, assentado, enquanto os deputados estão de pé.
— Não conhece aquele? — perguntou-me um desconhecido que estava ao nosso lado. É o sábio Teodoro Sampaio.
E ante o meu espanto:
— A cidade de São Paulo, ao surgir a República, era uma comuna pequena e suja, de 80.000 habitantes. Teodoro Sanipaio, como grande engenheiro, foi nomeado prefeito. Fez novo traçado, abriu ruas e bairros, aumentou, em progressão geométrica, a luz e a água. Criou parques industriais. Realizou uma revolução na capital paulista. O Rio tem 2.500.000 habitantes. Pois São Paulo já tem quase 2.000.000. E se o Rio, apesar de Capital do Brasil, não abrir os olhos, São Paulo acabará igualando-o... A velocidade inicial continua em crescendo ininterrupto.
Olhei, de novo, o crioulão, entre seus pares, já com respeito e assombro, enquanto o vizinho teimava em acrescentar pormenores, detalhes novos em que mostrava seu profundo conhecimento dos representantes federais:
- É ele deputado pela Bahia, terra quase só de pretos. Um dos pontos altos, de sua representação. Profundo conhecedor da etnografia indígena e da língua tupi é dos maiores sabedores da arqueologia brasileira. Percorreu o país todo, estudando jazidas paleontológicas e inscrições rupestres.
Os elogios do gentil informante me obrigavam a fitar e gravar no cerebro figura tão desconcertante. Físico semelhante só encontrei mais tarde em pessoa tristemente famosa, o Gregorio do “mar de lama” do Getulio. Na ocasião, todavia, me lembrei de Luiz Gama, também grosso e rotundo, o heróico abolicionista das tribunas de júri, autor das “Trovas Burlescas” e de André Rebouças, o grande matemático, célebre engenheiro e dedicado servidor de Pedro II.
A sessão da Câmara perdeu o interesse para mim. Os discursos de Adolfo Bergamini de Maurício de Lacerda, de Augusto de Lima, do velho e barbado José Bonifácio e do próprio João Neves, não tiveram a mesma importância e significado para mim que aquele conhecimento, só de todo compreendido mais tarde, quando li obras do sábio Teodoro Sampaio. E aquela profecia do gentil incógnito a propósito do crescimento de São Paulo se cumpriu integralmente, com exagero e até com desregramento.

Um comentário:

  1. Ja dat kan ik natuurlijk niet lezen, tenzij ik het in een vertaalmachine stop. Dat fotootje wat je hier gebruikt, dat is ook heel leuk voor facebook! En verder vraag ik me af waarom je mijn blog Belichtingstijd niet volgt? En verder een kus van je zus. Zal je missen a.s. zondag!

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